Rachel Mourão: palavras ao elenco

PARA TODOS VOCÊS MEUS AMIGOS E COMPANHEIROS!!!
"AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA
HOJE VOCÊ É QUEM MANDA FALOU TA FALANDO
NÃO TEM DISCUSSÃO,
A MINHA GENTE HOJE ANDA FALANDE DE LADO
E OLHANDO PRO CHÃO...
...APESAR DE VOCÊ AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA!"
   Armas, balas, pontos, aparelhos, vida, morte, caracterizam pessoas que eu sempre quis ser e nunca serei, porém carrego em pouco de cada um em pedaços de mim que simboliza a luta daqueles que tiveram sua juventude mudada por ideiáis políticos dos anos 60 e 70 e que em pleno ano de 2011 é lembrado em uma eterna roda viva chamada arte.
   Hoje eu e meus atores somos armas, balas, pontos, aparelhos, vida e morte. Hoje somos aquela juventude que prefere "perdê-la" para ganhar ideologias que a maioria dos jovens não tem, não adquiriam por n fatores que a sociedade impôs para essa nova geração.
   Qual é então o nosso papel perante o imenso mar de hipocrisia que nos é imposto?
   "Estava a toa na vida o meu amor meu chamou pra ver a banda passar falando coisas de amor..."
   Estávamos a toa em um período de esquecimento histórico, político e cultural, porém o nosso amor chamou para levantarmos a bandeira da luta contra a resistência e sua memória, que por mais que tentem escondê-la continua viva até hoje, no coração daqueles que lutaram, nas lembranças corporais e psicológicas dos companheiros, na arte que um dia foi bem direcionada e nos jovens atuais que se engajam para que essas pessoas não morram hoje nas mãos da repressão, da repressão cultural que vivemos no roda mundo, na roda gigante.
   O nosso papel é continuar lutando, é continuar falando, a ditadura não acabou e ela infelizmente saiu vitoriosa, porque muitos se calam, inclusive aqueles que há anos falavam, que há anos entregaram seus corpos. Hoje somos as vozes caladas brutalmente de uma geração perdida prematuramente e encenar Vera Magalhães, Ana Maria Nacinovic, Carlos Marighella não é pra qualquer um, mesmo sem experiência cênica, temos experiência psicológica adquirida pelos anos de repressão, mesmo não tendo vivido os anos 60 e 70 em corpo, mas vivemos em história e memória e só de subir ao palco somos vitoriosos, pois não deixamos suas vidas se esvairem como os generais e majores tentaram um dia.
   Somos a vitória desses combatentes, o legado vivo dos verdadeiros heróis da pátria brasileira, somos a história viva desse passado que não morreu e nunca morrerá.
   "Faz tempo que a gente cultiva a linda roseira que há...a gente vai contra corrente até não poder resistir..."
   Será? Será que não iremos resistir? Resistir sim, se entregar nunca! E ao ver em uma noite tantos companheiros juntos, tanta juventude de senhores que tiveram suas vidas contadas, promover reencontros de anos, ver essas pessoas com olhos lacrimejados é o maior prêmio que a juventude de jovens podem receber, o reconhecimento, a gratificação, por mais que não tenhamos feito mais do que a nossa obrigação como cidadão em mostrar a verdade que foi encoberta pelas sujas mentiras de uma impresa sensacionalista.
   Quem não entende de vida, não entende de contra corrente, não entende de experiência histórica.
   Somos vitoriosos, somos firmes, somos caros amigos, somos guerreiros e guerrilheiros dessa selva de pedras que oprime e tortura até hoje, somos contra corrente!
   "Todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco, todos nós no mesmo barco não há nada a temer, ao meu lado há um amigo que é preciso proteger, todos juntos somos fortes não há nada pra temer..." pois o passado é o presente que está vivo, "e no mundo dizem que são tantos 'CONTRA CORRENTE' como somos nós!"

Rachel Mourão
Diretora da peça Contra Corrente

19.05.11

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